A literatura brasileira é marcada por vozes potentes que atravessam gerações. De Patativa do Assaré a Slam das Minas, autores e autoras transformam palavras em denúncia, poesia e identidade. Conheça algumas dessas vozes históricas e contemporâneas que moldam a cultura, denunciam desigualdades e celebram a diversidade do Brasil.
- Everson N Oliveira
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Patativa do Assaré: o poeta do povo
Nascido no sertão cearense, Patativa do Assaré (1909–2002) é uma das figuras mais emblemáticas da poesia popular brasileira. Com sua linguagem simples e lírica, ele usou a poesia para retratar as dores, a fé e as lutas do povo nordestino.
“A terra é nossa mãe, é sagrada. E o sertanejo é forte porque nela aprendeu a resistir.” — Patativa
Sua obra é marcada pelo ritmo do cordel, crítica social e sabedoria popular. Até hoje, suas palavras ressoam como resistência e beleza no imaginário popular.
João Martins de Athayde: o rei do cordel
Pouco lembrado, mas fundamental, João Martins de Athayde foi editor e autor de centenas de folhetos de cordel no início do século XX. Dono de uma das maiores gráficas populares da época, ele democratizou o acesso à leitura, levando histórias de amor, política, religiosidade e fantasia às feiras e praças do Nordeste.
Seu legado permanece vivo em autores contemporâneos de cordel que preservam essa tradição oral com novos temas, como racismo, feminismo e política.
Carolina Maria de Jesus: a força da favela em palavras
Autora de Quarto de Despejo (1960), Carolina Maria de Jesus transformou seu diário de catadora em um grito mundial contra a fome e a miséria. Negra, pobre e marginalizada, ela rompeu o silêncio com sua escrita crua e visceral.
Mesmo sofrendo apagamento histórico, sua obra voltou a ser valorizada nos últimos anos, especialmente entre jovens leitores e movimentos sociais.
Voices da periferia: literatura marginal em destaque
Autores como Sérgio Vaz, Ferrez, Michel Yakini e Mel Duarte trazem à tona a literatura marginal e periférica — feita na e para a quebrada. Suas obras circulam em saraus, bibliotecas comunitárias e redes sociais, mostrando que a literatura não está restrita às grandes editoras ou universidades.
Essa produção desafia o cânone e expande o conceito de literatura brasileira, incluindo vozes que antes eram invisibilizadas.
Slam e poesia falada: o grito coletivo da nova geração
Os slams poéticos — batalhas de poesia falada — vêm ganhando força no Brasil, principalmente entre mulheres negras, LGBTQIA+ e periféricas. Iniciativas como o Slam das Minas e o Slam da Guilhermina deram visibilidade a poetas como Kimani, Bell Puã, Rafaela Azevedo e Tássia Reis.
Essas vozes usam a oralidade para reivindicar direitos, denunciar opressões e expressar afetos. A performance poética torna-se um ato político.
Literatura indígena e afro-brasileira: ancestrais e futuros
Autores indígenas como Eliane Potiguara, Daniel Munduruku e Ailton Krenak, ao lado de escritores afro-brasileiros como Conceição Evaristo, Cidinha da Silva e Itamar Vieira Júnior, reafirmam a força das vozes ancestrais.
Esses escritores misturam oralidade, espiritualidade e vivência comunitária com as formas da literatura contemporânea, ampliando o entendimento de Brasil.
Por que essas vozes importam hoje?
Em um país ainda marcado pela desigualdade, a escuta de vozes históricas e emergentes é um ato de empatia, memória e transformação. Elas denunciam, acolhem, questionam — e mostram que a literatura brasileira é feita por muitos Brasis.
No tempo dos algoritmos e virais, ouvir essas vozes é relembrar que a palavra continua sendo um instrumento de luta e beleza.